segunda-feira, 30 de março de 2009

Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador - Samuel Pfromm Netto

Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador - Samuel Pfromm Netto

Fichamento: Thiago Altafini

Cap 5 - A Odisséia do Cinema Educativo

- A maior parte dos filmes produzidos nos primeiros anos da história do cinema, todos de brevíssima duração, era de caráter documental: vistas de cidades e locais interessantes, pessoas famosas, o mar, o trem, dançarinos, ginastas.
Essas fitas ingênuas dos primeiros tempos são consideradas antecedentes do cinema educativo.
A história do cinema documental e do cinema educativo se confundem, no exterior e no Brasil.


Pioneiros do filme educativo:

- Primeiro filme para uso médico: Demonstração do uso do gás do riso para a extração de um dente, pelo Dr. Colton.

- 1898 - Paris - Cirurgia realizada pelo Dr. Doyen

- 1906 - Já se discutia em na França o uso do cinema para fins educativos.

- 1910 - O tema foi debate no congresso internacional de educadores em Bruxelas. Inicio da expansão.
- Disponíveis catálogos especializados em filmes educativos em todo EUA. TODOS FILMES SILENCIOSOS.


Primórdios do cinema educativo no Brasil

- 1896 - O cinema chega ao Brasil em 1896 nas respectivas cidades do Rio, SP, Piracicaba, Campinas, Porto Alegre.

- 1897/1898 - As primeiras "atualidades" filmadas no Brasil (Rio e São Paulo) por pioneiros como Cunha Salles, Vittorio de Majo e Alfonso Segreto, podem ser consideradas como precursoras do cinema educativo no Brasil, mesmo sem registro em instituições de ensino.

- 1910 - Nascimento da filmoteca do Museu Nacional no RJ - pioneirismo no uso do cinema na educação.

- 1912 - Roquette-Pinto filma na Rondônia os índios Nambiquaras.

- 1929 - Fernando de Azevedo provém todas escolas primárias do Rio de Janeiro de projetores cinematográficos e institui o emprego do cinema educativo. Isto também acontece em SP.

- 1936 - INCE - Instituto Nacional do Cinema Educativo - atuação fecunda na produção, distribuição, projeção, e divulgação do cinema educativo no Brasil.

- 1943 - INCE - acerco de 257 filmes produzidos no Instituto e 308 estrangeiros, com várias cópias circulando pelo Brasil.


Filmes para educação do povo: o sonho de Edison

- Filme educativo: a denominação abrange os filmes instrutivos do tipo "como fazer", os filmes para estudo na sala de aula, os filmes documentários sociais, os filmes científicos, os filmes para debates, os cine-jornais e os cine-magazines, assim como muitos filmes produzidos para fins de relações públicas, treinamento e até publicidade, abrangendo a quase totalidade dos filmes de não-ficção. (Star, C. - 1950)

- 1923 - cinema mudo - Eastman Kodak lança no mercado a primeira câmera cinematográfica de 16mm.

- 1928 - Eastman Kodak inicia a produção comercial de filmes educativos
- Expansão da produção e distribuição de filmes educativos através de empresas como Encyclopaedia Britannica, Mc-Graw Hill, Film Inc, Time-Life Films, Coronet e outras.

- 1930 - A bitola 16 mm se impôs como adequada a filmes de ensino e científicos.

- 1960 - Surgimento do super 8 sonoro e sua consequente utilização no cinema educativo.

- "Os cinemas científico e médico compõem uma categoria especial do cinema educativo e documental. Recorrem a meios como a microcinematgrafia, as cinematografias infravermelha, ultravioleta e de raios X, a animação, e dispositivos e equipamentos específicos, como os empregados em filmagens no interior de cavidades do corpo (endocinematografia)".


Fundamentos do ensino por meio do cinema

- Desde o principio do cinema pesquisas são realizadas por especilaistas sobre o uso do cinema na educação.

- Hoban Jr. e van Ormer: revisão crítica das pesquisas - " Instructional Film Research Program" - Pennsylvania State University - conclusões:

1 - Valor dos filmes educativos:
a - as pessoas aprendem por meio dos filmes;
b - quanto mais adequado o uso mai efetiva a aprenizagem;
c - filmes educativos esimulam outras atividades de aprendizagem;
d - facilitam o pensamento crítico e a solução de problemas;
e - filmes apropriados são equivalentes a professores médios

2 - Princípios que determinam a influência dos filmes educativos:
a - princípio do refoçamento: os filmes são mais influentes dependendo do conhecimento prévio do espectador sobre o assunto;
b - princípio da especificidade: a influência de um filme é mais específica do que geral;
c - princípio da relevância: a influência do filme é maior quando o conteúdo é relevante para a audiência;
d- princípio da variabilidade da audiência: a influência de um filme varia de acordo com: "alfabetização cinematográfica", inteligência abstrata, educação formal, idade, sexo, experiência prévia, preconceito e predisposição;
e - princípio da primazia visual: a influência de um filme é maior de acordo com o vigor de sua apresentação visual
f - princípio do contexto icônico: resposta seletiva da audiência, de acordo com o familiar e significante do contexto icônico da ação;
g - princípio da subjetividade: a influência de um filme é ms eficiente quando seu conteúdo se apresenta de forma subjetiva para o espectador;
h - princípio do ritmo de desenvolvimento: o ritmo mais lento de um filme educativo é mais eficaz em termos de aprendizagem;
i - Princípio das variáveis de ensino: a influência de um filme é determinada pelo nível qualitativo da educação formal do espectador;
j - Princípio da liderança do professor: qualidade que afeta a influência de um filme.

3 - Observaçãoes Gerais
a - Quando a aprendizagem necessária e desejada depende de uma base de experiência possuída só de modo muito limitado pelo aprendiz, as vantagens do filme sobre outros meios de ensino são mais evidentes, particularmente quando se trata de ensino rápido e de massa;
b - A influencia de um filme geralmente é menor do a influência antecipada deste;
c - É fundamental elaborar o filme educativo para tal propósito, não meramente "artísticos";
d - È essencial que todas pessoas envolvidas no processo educativo contribuam para o filme, não apenas o produtor.

Cinema educativo na "belle epoque"

- O cinema nasce como cinetífico e educativo. O primeiro capítulo da história do cinena educativo aconteceu antes mesmo da invenção câmera cinematográfica.

- 1872 - 1882 -
Inglaterra: Muybridge - locomoção animal e humana.
França: Marey - fsiologista e médico - apresentação da primeiras filmagens em película na Academia de Ciências de Paris - 1885

- 1874 - Jansen - "Revólver fotográfico" - registro da passagem de vênus pelo disco solar.

- Afirmação do cárater educativo da maior parte da produção do cinema primitivo do final do século XIX e início do XV.

- Thomas A. Edison - 1847/1931 - precursor do cinema educativo

- Nas primeiras décadas do século XX surgiram companhias criadas especialmente para produzir e distribuir filmes educativos para escolas, igrejas, clubes, instituições políticas e organizações industriais.

- 1898 - França - nascimento do filme educativo: Dr. Doyen (nova menção) autoriza Clement Maurice (produzido pela Pathé) a filmar as intervenções cirúrgicas por ele realizadas no Hotel Dieu. Filmes exibidos em São Paulo em 1902 no Cassino Paulista, sob os títulos: Trepanação, Operação Cesariana, Extração de um papo, Operação de um quisto, Laparotomia, Amputação de uma perna e Extração dos rins. Filmes causaram escândalos.

- 1897 - Alemanha - alemães reivindicam pioneirismo - Schuster: filmes sobre doentes de Parkinson, mioclomia, hemiparesia, ataxia e sinal de Bomberg.

- 1898 - Berlin - cirurgião Ernst von Bermanm - filmagem por Oskar Messter de amputação de perna na Clínica Cirúrgica da Universidade de Berlin.

- Oskar Messter - pai do cinema e educativo e científco na Alemanha. - Filmagem em câmera lenta.


O cinema no ensino médico

- Século XX - microcinematografia - precursores: Witkins (EUA), Jean Comandon (França)

- condensação artificial do tempo - von Ries - suiça - filmagens pioneiras de fenômenos cinéticos lentos como o da divisão celular do ovo fecundado.

- Kraepelin - filmes sobre o comportamento de pacientes psiquiátricos.

- 1919 - Hamburgo - endocinematografia - Pancocelli-Calzia

- 1924 - Roentgencinematografia - Comandon e Lomon (França) / Gottheiner e Jacobsohn

- filmagen com Raio X - pouco antes da Segunda Guerra.

1907 - primeiro filme médico brasileiro - Chapot-Prevost (médico) - Hospital de São Sebastião do Rio de Janeiro - separação de duas irmãs xipófagas.

- Alberto Federmann - Instituto Biológico - responsável por muitos filmes médicos desde a década de 1920.

- Menção aos técnicos do INCE que a partir de 1936 foram resposáveis por inúmeros filmes médico-científicos.

- Benedito J. Duarte - a mais notável contribuiçao ao cinema educativo brasileiro com 30 anos de atividade ininterrupta. Filmagem do primeiro transplante cardíaco na Amérca do Sul - 1968


De 1950 aos anos 90

- 1950 -Expansão na promoção do cinena educativo brasileiro. Até os anos 70.

- Filmotecas: Embaixadas, empresas privadas, INCE RJ, Serviços de Recursos Audiovisuais do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (Cidade Universitária), Secretarias Estaduais de Educação e outras.

- Filmoteca da Shell - 1941 - 60 anos de funcionamento, constitui um dos mais belos exemplos de colaboração da iniciativa privada para a educação do país. Centenas de filmes em 16mm.

- 1960 - SRAV - Além de produzir filmes educativos nacionais, funcionou como centro equipado para tradução, adaptação e dublagem dos melhores filmes educativos disponíveis no mercado internacional. Pertenceu ao SRAV uma as figuras de maor importância no cinema educativo brasileiro: Chicrala Haidar - diretor, produtor e adaptador - filmes industriais.

- 1960 - Ilka Brunhilde Laurito: cinema para crianças no Brasil, tanto educativo como recreativo.

- Seção de Recursos Audiovisuais do Setor de Assistência Pedagógica do Serviço de Ensino Secundário e Normal do Estado: apoio e iniciativas de desenvolvimento da educação por meio do audiovisual.

- Anos 70 - cinema educativo sofre impacto da expansão a televisão no Brasil. Por outro lado surge a produção audiovisual educativa destinada à TV. Destaque para Fundação Padre Anchieta / TV Cultura e sua produção edcativa para a TV e para distribuição em 16mm nos anos 70 para escolas e instituições.

- Thomas Farkas - destaque para sua contribuição para o cinema educativo brasileiro.

- Anos 80 e 90 - Decadência do "Cinema Educativo Brasileiro". Extinção das instituições produtoras governamentais.



quinta-feira, 26 de março de 2009

Seminário na UFSCar discute Educação a Distância

Não sei até que ponto é interessante pra todos, mas segue aí a notícia direto do Portal da UFSCar.

Nos dias 30 e 31 de março, a UFSCar realiza o seminário "A Educação a Distância na UFSCar", aberto a todos os envolvidos e interessados. O objetivo é debater a institucionalização da EaD na Universidade, a partir da experiência nos cinco cursos de graduação a distância oferecidos pela Instituição no programa Universidade Aberta do Brasil (UAB).

O evento terá apresentações de Vani Moreira Kenski, Diretora da Associação Brasileira de Educação a Distância, e Carlos Eduardo Bielschowsky, Secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação. Haverá também mesa-redonda sobre as experiências e desafios da UAB-UFSCar, com a participação da coordenação da UAB-UFSCar e representantes de coordenadores de cursos, professores e tutores. Encerra o evento apresentação da Reitoria e Pró-Reitoria de Graduação sobre importância e desafios da institucionalização da Educação a Distância na Universidade.

http://www2.ufscar.br/servicos/noticias.php?idNot=2361

segunda-feira, 23 de março de 2009

Resenha: A odisséia do cinema educativo (Alberto)

Em países como EUA, Canadá e Japão, filmes em película são ainda muito utilizados com fins educativos. (p.75). Noel Carroll (1996) apresenta dados que a disseminação da televisão e do videocassete não diminuiu a produção de filmes, pelo contrário.(p.76).

Após breve explanação sobre o surgimento das primeiras máquinas de registro e exibição cinematográficas (imagem em movimento), o autor cita alguns exemplos sobre a vocação educacional do cinema desde seus primórdios, nos EUA, Europa e Brasil. Em todos os casos, o autor relaciona o cinema dos primórdios – vistas documentais – com cinema educativo.(p.76-79). Além dos filmes de ficção, praticamente tudo que é não-ficção pode ser definido como filme educacional. (p.79-80).

O autor disserta sobre os diversos formatos e bitolas para cinema, destacando relações entre aparatos técnicos e possibilidades de utilização em contextos educativos e científicos. Prossegue relatando características próprias da imagem cinematográfica, como luminosidade, enquadramento e maquinária. (p.79-82). Apresenta-se resultados das pesquisas realizadas por Hoban Jr. e van Ormer (1951) no campo de cinema educativo. Tais resultados são apresentados sem análise crítica e o autor nem sequer cita as metodologias adotadas para obtenção dos mesmos, o que evidencia o impulso do autor em reafirmar resultados de pesquisas antigas como verdades absolutas para validar a hipótese que está querendo provar, isto é, que os filmes têm alto valor e potencial educativos. (p.82-84).

O texto em questão é de extrema importância pela extensa revisão bibliográfica apresentada. Mesmo que apresentadas com pouca criticidade, o fato de serem apresentadas tantos trabalhos posteriores já é por si só um feito notável, e que serve de referência a estudos posteriores na área do audiovisual educativo. São apresentadas novas elocuções sobre o caráter educativo/científico do cinema dos primórdios. É ressaltado o valor histórico desses registros audiovisuais, observação esta que dialoga com estudos audiovisuais recentes (J.C. BERNARDET; Robert C. ALLEN e Douglas GOMERY, Michele LAGNY, entre outros). (p.85-86).

Cita-se exemplos de filmes medicinais, ou seja, descrição audiovisual de procedimentos médicos. (p.87). O autor cita ainda inúmeros exemplos de como o cinema auxiliou e o progresso médico-científico, possibilitando descobertas e divulgações bastante relevantes. (p.88-91).

Em 1950, o cinema educativo presenciou uma época de ascensão, devido em grande parte ao surgimento e fortalecimento de filmotecas. (p.91). Em 1960 foi criado o Serviço de Recursos Audiovisuais (SRAV) ligado ao Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo. O referido órgão foi responsável pela produção de filmes educativos e principalmente pela tradução e adaptação de diversos filmes educativos estrangeiros. Os filmes produzidos e adaptados pelo SRAV eram disponibilizados para uso educativo. (p.92-93).

É lamentável o descaso acadêmico e jornalístico com os diversos filmes educativos produzidos com finalidade de treinamento industrial. (p.93-94). O autor cita ainda exemplos de cinema e educação infantil, iniciativas estatais de produção e distribuição de cinema educativo, épocas de auge e declínio do cinema educativo em prol de longas metragens ficcionais, programas televisivos e curtas-metragens de outras naturezas, o advento da televisão como ampliação do alcance do cinema educativo, iniciativas da TV Cultura/Fundação Padre Anchieta e do Instituto Nacional de Cinema Educativo, o INCE. (p.94-97).

Resenha do Capítulo "A Odisséia do Cinema Educativo"

"A Odisséia do cinema educativo", quinto capítulo do livro "Telas que Ensinam", de Pfromm Neto, se propõe a fazer um breve panorama histórico do cinema educativo no mundo, com um olhar especial para o que foi feito no Brasil desde a chegada do aparato audiovisual às terras tupiniquins.
Lembrando que o cinema surgiu no final do século IXX - pelo menos, oficialmente, já que há indícios e discordâncias sobre a tal exibição inaugural no Grand Café - tem-se então mais de um século de história de cinema, esta sempre ligada intrinsecamente à educação. A grande maioria dos filmes produzidos no início do século XX, ainda em curta-metragem (na sua maioria, menores dos que os padrões do formato hoje) tinham uma natureza documental. Desde vistas de lugares importantes e famosos, até registros de famílias influentes e outros notáveis, como artistas e esportistas em geral, esses filmes podem ser considerados os precursores do cinema educativo, já que tinham como objetivo a informação que, em um sentido mais amplo, é um objetivo do que se entende por educativo. Já nestas primeiras décadas, a aplicação do cinema enquanto instrumento de educação nas escolas já era debatido em congressos e encontros de educadores.

No Brasil, ainda que não haja registro da utilização destes vídeos nas escolas em seus primeiros anos, em 1910 nasce a filmoteca do Museu Nacional na capital federal. Aos poucos, o acervo brasileiro de fitas documentais, sobretudo tendo como tema a cultura nacional, como filmagens de rituais indígenas por exemplo, foi aumentando e, em 1929, o cinema educativo foi instituido nas escolas primárias do Rio de Janeiro, com a aquisição de projetores cinematográficos. Em seguida, já no ano de 1936, surgiu o INCE - Instituto Nacional de Cinema Educativo, iniciativa do governo federal, na figura do então ministro da educação, Gustavo Capanema, e do antropólogo Edgar Roquette-Pinto, diretor do instituto nos 10 primeiros anos. Também fez parte do quadro do INCE o cineasta Humberto Mauro, um dos mais renomados diretores do cinema brasileiro daquele momento. O instituto foi responsável pela produção de cerca de 350 filmes, sendo que destes mais de dois terços com a participação direta de Mauro, seja na produção ou na direção.


A velha a Fiar, Filme de Humberto Mauro enquanto trabalhava no INCE - 1964

Já na segunda metade do século, houve um grande destaque para a difusão das filmotecas e cinematecas, sobretudo de filmes em 16mm, e a proliferação de projetores em escolas. Ainda que bastante restritos ao sudeste, sobretudo a então capital federal Rio de Janeiro, era grande o número de aparelhos de reprodução cinematrográfica em escolas, e a produção relativamente abundante de filmes, principalmente pelo INCE, ajudaram a aumentar o acervo e distribuir o cinema como forma de educação. Através de parcerias com instituições privadas, já nos anos 60, alguns orgãos estatais de cinema educativo também foram grandes responsáveis por esse aumento, sendo responsáveis pela tradução e adaptação de filmes produzidos em outros países, sobretudo os Estados Unidos. Com a expansão da televisão no país, nos anos 70, houve um grande impacto na produção, distribuição e exibição do cinema educativo no Brasil, tal como acontecera também com o cinema comercial. Ao mesmo tempo que a TV parecia tomar o lugar do cinema na preferência das pessoas, foi também uma grande ferramenta de divulgação dos filmes educativos produzidos, até pelo seu alcance ser ainda maior do que o cinema poderia imaginar. Um dos grandes destaques neste quesito é a Fundação Padre Anchieta, que originou a TV Cultura de São Paulo. Além da exibição de muitos dos filmes produzidos pelo Brasil ou traduzidos dos que vieram de outros países, também atuou nos anos 70 como uma distribuidora do cinema educativo, aumentando assim o alcance destes, que antes estavam bem restritos ao sudeste brasileiro. A TV, assim, se torna uma concorrente direta do cinema, ao mesmo tempo que é também uma facilitadora da sua divulgação.
Os anos 80 e 90 não foram tão marcantes e produtivos no que consta sobre o cinema e, a essas alturas, o audiovisual educativo no Brasil. Muitos dos institutos, tais como o INCE e o SRAV foram abandonados e dissolvidos por mandos e desmandos políticos. As filmotecas e cinematecas sobreviveram com grande esforço e sacrifício de poucos homens, sem o apoio estatal de outrora. A produção televisiva, bastante impulsionada na década anterior acaba sofrendo do mesmo mal e, exatamente pelo caráter público, sofre dos mesmos males do cinema. Assim, pouco se produziu nestas duas décadas, se comparadas às anteriores. Exemplos como a tradução de Vila Sésamo nos anos 70 e 80, e a produção do Castelo Rá-Tim-Bum nos anos 90 se tornaram mais raros, sendo que o cinema educativo quase que se extinguiu por completo, e o que sobrou eram os velhos filmes dos anos 50 e 60, preservados pelas poucas filmotecas citadas anteriormente.
Pode-se concluir, desta forma, que o cinema educativo teve sua história pautada pela história do cinema comercial brasileiro. Em suas várias crises e alguns ápices, o cinema brasileiro como um todo sofreu com inconstâncias políticas e financeiras e sempre teve que se apoiar no estado. Quando este faltou, o cinema não conseguiu se auto-sustentar e, em alguns casos, jamais conseguiu se recuperar. Hoje, o cinema educativo brasileiro se resume aos (poucos) filmes conservados nos acervos que sobraram e a produção audiovisual educativa sobrevive por outras mídias, como a cada vez mais forte televisão e as chamadas mídias digitais, calcadas nas novas tecnologias, como discos, internet e dispositivos móveis.

Estudos realizados por Hoban Jr. e van Ormer nos anos 50 obtiveram conclusões interessantes sobre a aplicação do cinema na educação. Entre algumas destas conclusões, pode-se destacar que é possível aprender através de filmes, de forma rápida, clara e duradoura e que estes mesmos filmes, estimulando outras atividades de aprendizagem, podem substituir um professor médio, ou mesmo um excelente professor. Também chegaram à conclusão que cada filme pode ser recebido de maneiras diferentes por pessoas diferentes, variando conforme idade, sexo, classe social, etc. Pode-se entender que a comparação feita pelos pesquisadores entre filmes e professores é extremamente ilustrativa, já que é muito complicado afirmar que a ação do professor e de um filme é a mesma. Essa visão seria válida em uma concepção onde o professor é o puro tranmissor de conhecimentos e verdades pré-estabelecidas e que, assim, um filme informativo também poderia realizar esse papel. De uma forma geral, pode-se extrair desta pesquisa, a se relevar a sua datação e todos os pré-conceitos dos quais está contaminada, que o sistema educacional avalia que, de certo modo, a utilização do cinema em sala de aula, desde que bem planejada e executada, pode ajudar no desenvolvimento educacional de crianças, jovens e adultos.

A comunidade científica se utilizou muito do aparato do cinema para registro de pesquisas e descobertas, bem como divulgação de seus trabalhos em congressos, encontros e mesmo na difusão do conhecimento. Um grande exemplo disso foi a comunidade médica, que buscou no registro cinematográfico uma forma de demonstração de procedimentos cirúrgicos, sintomas de doenças raras e divulgação de curas e tratamentos. O próprio INCE produziu vários destes trabalhos, sendo o primeiro dos filmes produzidos pelo instituto um curta chamado “Lição de Taxidermia”, importante para a divulgação científica na área biológica. Também pelo INCE, foram produzidos filmes de outras áreas acadêmicas, tais como astronomia, história do Brasil e botânica, alguns dos quais exibidos e premiados em festivais do gênero educativo pelo mundo.

Desta forma, enfim, pode-se atestar que a produção cinematográfica com fins educativos no Brasil sempre esteve ligada ao apoio estatal, com mais ou menos intensidade e intervenção. Os grande destaques documentados pela história, tais como o INCE para o cinema e a TV Cultura, para a televisão, são iniciativas públicas, sustentadas por entusiastas e com relativo sucesso na sua produção e distribuição. A utilização do meio audiovisual na educação não data de hoje, nem de alguns anos atrás. Está na gênese do cinema, ou mesmo antes de sua inauguração oficial, e ambos tem suas histórias sempre entrelaçadas. Cabe a produtores, pedagogos, pesquisadores e todos os envolvidos no processo educacional e de produção audiovisual buscar o diálogo e a interação para que esta relação continue se estreitando, afim de que audiovisual e educação busquem juntos aperfeiçoar aquilo que vem construindo há muito tempo.

PFROMM NETTO, Samuel. A odisséia do cinema educativo. In: _________. Telas que ensinam: mídia e aprendizagem: do cinema ao computador. São Paulo: Alínea, 2001.

Comentários sobre "A odisséia do cinema educativo"

Em “A odisséia do cinema educativo”, capítulo 5 do livro “Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador”, Samuel Pfromm Neto faz um levantamento histórico do cinema educativo, trazendo à tona fatos, pesquisas relevantes sobre o tema e também uma análise sobre a educação através de imagens, sejam elas advindas do cinema, vídeo, televisão ou dos CD-roms, que começavam a ganhar espaço à época em que foi escrito o texto.

O conceito de cinema educativo é bastante abrangente, compreendendo, para o autor, praticamente todos os filmes de não-ficção. Assim, o cinema educativo surge com os primeiros filmes do século XIX, como os de atualidades, reportagens, viagens entre outros.

Apenas alguns anos mais tarde já se percebe o potencial educativo deste novo meio que surgia. Tanto que, em 1906, na França, debatia-se a utilização do cinema com fins educativos. E no Brasil, em 1936, foi criado o INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo -, com fins de produção, distribuição, projeção e divulgação do cinema educativo.

A utilização da imagem e, posteriormente, dela agregada ao som, com fins educativos foi crescendo nas diversas áreas do conhecimento humano. De estudos astronômicos, médicos – estes com um destaque a parte no capítulo – a treinamentos técnicos, o cinema começa a se popularizar como fonte de ensino principalmente com o barateamento das condições de produção e a portabilidade de novas câmeras e projetores de 8mm e 16mm surgidos nos anos 60 e 70 do século passado.

Logo a eficácia do cinema como instrumento de educação é colocada em xeque e diversos acadêmicos começam a estudá-la. Em 1951, Hoban Jr. e van Ormer fazem uma revisão de várias pesquisas e chegam a algumas conclusões, das quais destaco, dentre três categorias levantadas pelo autor do texto:

  • Valor dos filmes educativos: é possível aprender por meio dos filmes; eles levam ao pensamento crítico; filmes apropriados são equivalentes a um professore mediano, supondo-se que a função do professor é comunicar fatos ou demonstrar procedimentos;

  • Princípios que determinam a influência dos filmes educativos: as reações a um filme variam de acordo com a “alfabetização cinematográfica” de seus espectadores; o rigor da apresentação visual; a familiriadade icônica dos espectadores com relação ao tema apresentado; o ritmo de desenvolvimento do filme; e a necessidade de um professor para versar sobre o filme são princípios que alteram a influência de filmes educativos;

  • Observações gerais: os filmes funcinam bem, ou pelo menos melhor do que outros meios, quando o aprendiz tem pouca experiência no assunto; funcionam bem para ensino rápido e em massa; e quando são elaborados como ferramenta de ensino-aprendizagem.

Essas conclusões são válidas não só para o cinema, mas para qualquer outro meio que utilize a imagem em movimento na educação, como a televisão, o vídeo e os CD-roms.

O texto trata ainda da importância das filmotecas das embaixadas e consulados e de organizações privadas, que colocaram a disposição de escolas centenas de filmes sobre diversos assuntos. Este acervo foi muito importante para o desenvolvimento do cinema educativo no Brasil, assim como também foi a criação, em 1960, do SRAV – Serviço de Recursos Audiovisuais – no Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo.

Além de produzir filmes originais voltados para o ensino, o SRAV também era responsável pela tradução, adaptação e dublagem de filmes educacionais estrangeiros. E foi também um centro formador de especialistas em recursos audiovisuais para a América Latina.

Nos anos 70, com a popularização da televisão, ganha força a produção de filmes educativos para a tv, sendo a Fundação Padre Anchieta/TV Cultura responsável por várias séries educativas. Não somente como produtora, mas também como distribuidora delas.

No entanto, nas décadas de 80 e 90 temos “a fase mais sombria do cinema educativo no Brasil”. O SRAV foi extinto e o INCE desapareceu. Por outro lado, de 90 pra cá há a popularização dos videocassetes e também o boom da internet (este último posterior ao texto e, portanto, não mencionado) que ajudam a difundir os filmes educativos para um grande número de pessoas. Ainda que não na forma mais tradicional de cinema, várias dessas mídias utilizam as mesmas técnicas de comunicação visual empregadas pelo cinema.

Aula 03 - Xerox do Cap. 5 do livro do Pfromm Netto

Olá pessoal,

Aproveitando que nosso colega Paulo é detentor legal de uma cópia do livro que devemos ler pra aula de daqui a pouco, escaneei o capítulo 5 e disponibilizo-o aqui no nosso blog, em diversas resoluções.

Um tanto em cima da hora, mas antes tarde do que nunca... Se até a justiça falha, porque eu, reles mortal, ... ah! deixa pra lá!

Aproveitem e até amanhã!

ABC's

PFROMM NETTO, Samuel. A odisséia do cinema educativo. In: _________. Telas que ensinam: mídia e aprendizagem: do cinema ao computador. São Paulo: Alínea, 2001.

(Tive que tirar os links por falta de espaço no servidor. Se alguém quiser os arquivos, favor entrar em contato comigo. Alberto)

sábado, 7 de março de 2009

Apresentação

Este é o Blog das disciplina Educação a distância e audiovisual, oferecida para o curso de Mestrado em Imagem e Som do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos.



Prof. Dr. Glauber Santiago

Ficha de Caracterização

Nome da disciplina:

Educação a distância e audiovisual

Ementa:

A disciplina visa possibilitar aos alunos uma visão introdutória do estado da arte da Educação a Distância (EaD) para que possa articular as várias interfaces que esta modalidade de educação tem com o Audiovisual. Para isso serão apresentados desenvolvimentos históricos, conceitos e aplicações da EaD e das várias interfaces que esta teve, e tem, com o Audiovisual.

Bibliografia:

MOORE, Michael. Educação a Distância: Uma Visão Integrada. São Paulo: Thomson Heinle, 2007.

PFROMM NETTO, Samuel. Telas que Ensinam: Mídia e Aprendizagem: do Cinema ao Computador. São Paulo: Alínea, 2001.

LITTO, Frederic M. Educação a Distância - O estado da arte. São Paulo: Pearson, 2008.