segunda-feira, 23 de março de 2009

Comentários sobre "A odisséia do cinema educativo"

Em “A odisséia do cinema educativo”, capítulo 5 do livro “Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador”, Samuel Pfromm Neto faz um levantamento histórico do cinema educativo, trazendo à tona fatos, pesquisas relevantes sobre o tema e também uma análise sobre a educação através de imagens, sejam elas advindas do cinema, vídeo, televisão ou dos CD-roms, que começavam a ganhar espaço à época em que foi escrito o texto.

O conceito de cinema educativo é bastante abrangente, compreendendo, para o autor, praticamente todos os filmes de não-ficção. Assim, o cinema educativo surge com os primeiros filmes do século XIX, como os de atualidades, reportagens, viagens entre outros.

Apenas alguns anos mais tarde já se percebe o potencial educativo deste novo meio que surgia. Tanto que, em 1906, na França, debatia-se a utilização do cinema com fins educativos. E no Brasil, em 1936, foi criado o INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo -, com fins de produção, distribuição, projeção e divulgação do cinema educativo.

A utilização da imagem e, posteriormente, dela agregada ao som, com fins educativos foi crescendo nas diversas áreas do conhecimento humano. De estudos astronômicos, médicos – estes com um destaque a parte no capítulo – a treinamentos técnicos, o cinema começa a se popularizar como fonte de ensino principalmente com o barateamento das condições de produção e a portabilidade de novas câmeras e projetores de 8mm e 16mm surgidos nos anos 60 e 70 do século passado.

Logo a eficácia do cinema como instrumento de educação é colocada em xeque e diversos acadêmicos começam a estudá-la. Em 1951, Hoban Jr. e van Ormer fazem uma revisão de várias pesquisas e chegam a algumas conclusões, das quais destaco, dentre três categorias levantadas pelo autor do texto:

  • Valor dos filmes educativos: é possível aprender por meio dos filmes; eles levam ao pensamento crítico; filmes apropriados são equivalentes a um professore mediano, supondo-se que a função do professor é comunicar fatos ou demonstrar procedimentos;

  • Princípios que determinam a influência dos filmes educativos: as reações a um filme variam de acordo com a “alfabetização cinematográfica” de seus espectadores; o rigor da apresentação visual; a familiriadade icônica dos espectadores com relação ao tema apresentado; o ritmo de desenvolvimento do filme; e a necessidade de um professor para versar sobre o filme são princípios que alteram a influência de filmes educativos;

  • Observações gerais: os filmes funcinam bem, ou pelo menos melhor do que outros meios, quando o aprendiz tem pouca experiência no assunto; funcionam bem para ensino rápido e em massa; e quando são elaborados como ferramenta de ensino-aprendizagem.

Essas conclusões são válidas não só para o cinema, mas para qualquer outro meio que utilize a imagem em movimento na educação, como a televisão, o vídeo e os CD-roms.

O texto trata ainda da importância das filmotecas das embaixadas e consulados e de organizações privadas, que colocaram a disposição de escolas centenas de filmes sobre diversos assuntos. Este acervo foi muito importante para o desenvolvimento do cinema educativo no Brasil, assim como também foi a criação, em 1960, do SRAV – Serviço de Recursos Audiovisuais – no Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo.

Além de produzir filmes originais voltados para o ensino, o SRAV também era responsável pela tradução, adaptação e dublagem de filmes educacionais estrangeiros. E foi também um centro formador de especialistas em recursos audiovisuais para a América Latina.

Nos anos 70, com a popularização da televisão, ganha força a produção de filmes educativos para a tv, sendo a Fundação Padre Anchieta/TV Cultura responsável por várias séries educativas. Não somente como produtora, mas também como distribuidora delas.

No entanto, nas décadas de 80 e 90 temos “a fase mais sombria do cinema educativo no Brasil”. O SRAV foi extinto e o INCE desapareceu. Por outro lado, de 90 pra cá há a popularização dos videocassetes e também o boom da internet (este último posterior ao texto e, portanto, não mencionado) que ajudam a difundir os filmes educativos para um grande número de pessoas. Ainda que não na forma mais tradicional de cinema, várias dessas mídias utilizam as mesmas técnicas de comunicação visual empregadas pelo cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário